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A mudança pessoal dos alunos ao estudar em faculdades americanas

Lecticia Maggi - 11/08/2015
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Por Andrea Wunderlich

Aprender. Crescer. Amadurecer. São palavras frequentemente associadas ao conceito de estudar no exterior. Baseada na minha própria experiência de estudar fora e na de alguns amigos meus, criei uma lista com algumas das mudanças mais comuns que as pessoas sentem ao estudar em uma faculdade no exterior. Você aprende:

A organizar seu tempo. Lazer, esporte, festas, aulas, sono e a lição de casa são importantes no mundo da faculdade, e não tem ninguém insistindo para que você comece logo a lição, ou que você acorde a tempo de chegar na primeira aula do dia. Você está encarregado de tudo: de decidir o que merece seu tempo, quanto tempo dedica a cada atividade, e o que é melhor deixar de lado.

A cuidar das suas coisas. Se você não lavar sua roupa, não terá o que usar. Se o micro-ondas estiver quebrado, não terá como esquentar sua comida. Além disso, aprenderá a respeitar as coisas e o espaço dos outros. Você pode não se importar com a sujeira no seu quarto, mas provavelmente terá um colega de quarto, e este pode não gostar tanto de bagunça.

A lidar com as situações sozinho. Você terá que enfrentar as  consequências do que fizer sozinho. Não haverá pai e mãe perto para te socorrer.

A ser responsável. Morando sozinho, tudo que acontecer, seja bom ou ruim, é de sua responsabilidade. Tudo o que criar é inteiramente seu. Você aprende a cuidar de si mesmo, a ter cuidado para que coisas desagradáveis não aconteçam, e a assumir a responsabilidade pelos seus atos.

Não me dei muito bem com as minhas colegas de quarto. Mas, apesar do que eu acreditava antes de me mudar para os EUA, isso não estragou o meu ano

Esses são os pontos mais comuns, mais genéricos. Cada aluno tem uma experiência única e, se alguns amadurecem mais, não significa que os outros não estejam utilizando sua experiência de forma adequada. Após dois anos em uma faculdade americana, confesso que deixo os trabalhos para a última hora. Minha cama passa semanas desfeita, e só lavo a roupa quando não tenho mais o que usar.

Espero muito que, nos próximos dois anos, eu mude esses comportamentos. Espero que meus amigos e familiares percebam meu amadurecimento e espero estudar mais para as provas do futuro. Mas acredito que minha jornada ao exterior já foi muito válida, pois creio que já aprendi algumas coisas muito importantes que vão além do conhecimento acadêmico adquirido em sala de aula.

Nestes dois anos de faculdade, aprendi que não é o fim do mundo não encontrar um amigo no refeitório, e que comer sozinho tem seus méritos. Aprendi que não gosto tanto de neve quanto eu imaginava, e que gosto mais de gelato do que de sorvete. Percebi também que, do mesmo jeito que aprecio um convite para jantar de um conhecido, um conhecido apreciaria um convite meu. Em um ambiente onde ninguém se conhece, é importante ser gentil e se interessar pela vida dos outros.

Descobri que, em faculdades com um grande número de alunos internacionais, os brasileiros costumam se juntar e criar grupos. Sabendo disso, sou grata da minha decisão de estudar em uma escola pequena e pouco conhecida no Brasil e, asism, poder me aproximar mais da cultura local, de onde estou inserida.

Se você for admitido em uma faculdade prestigiada, às vezes, se sentirá mal preparado. Outras vezes, simplesmente burro

Não me dei muito bem com as minhas colegas de quarto. Mas, apesar do que eu acreditava antes de me mudar para os EUA, isso não estragou o meu ano. Descobri também que ser bom aluno ou bom jogador de futebol aos 17 anos, não significa que você é o melhor naquilo. Há muitas pessoas melhores do que você!  Se você for admitido em faculdade prestigiada, às vezes, se sentirá mal preparado. Outras vezes, simplesmente burro.

Aprendi também que, ao voltar ao Brasil, colegas e conhecidos que ficaram aqui não perguntam coisas do tipo: “e o que você acha de lá?”. Em vez disso, falam: “É muito bom lá, né?” ou “você deve estar amando.” Lá, nas faculdades americanas, não há só padrões acadêmicos altíssimos, mas também expectativas irreais sobre a felicidade: todos devem ser felizes e os que não são, falharam.

Aprendi a aceitar que não estou feliz sempre e, mais do que isso, a não ter vergonha da infelicidade. Morar no exterior é, com certeza, uma experiência ótima e única. Mas também é uma experiência difícil e desconfortável às vezes.

Morar no exterior é, com certeza, uma experiência ótima e única. Mas também é uma experiência difícil e desconfortável às vezes

Quando você faz uma escolha em relação ao futuro, nunca sabe se é ou não a escolha certa. Eu decidi estudar nos EUA, e gosto muito. Mas tem vezes que também não gosto. E muitas vezes, penso: “E se eu tivesse ficado aqui, como seria? Será que fiz a escolha certa? Será?”

Aprendi a não pensar no “e se?” e a ignorar o “será?”. E aprendi que não há uma “faculdade perfeita” para cada pessoa; cada faculdade é ótima, além de ter muitos defeitos, e cada estudante pode crescer, mudar e se moldar em qualquer uma.

Àqueles que pensam em estudar fora: certa vez ouvi uma palestra cujo ponto principal era que se, após quatro anos em uma faculdade americana, o aluno não tivesse mudado, a faculdade não teria cumprindo seu papel adequadamente.

Estudar fora é uma grande experiência e, mesmo enfrentando algumas situações ruins, uma ótima oportunidade para crescer, aprender e amadurecer.

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Andrea Wunderlich é estudante de graduação no Bowdoin College, nos EUA.

*Foto: Bowdoin College/ crédito: divulgação

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Sobre o escritor

Lecticia Maggi
Lecticia Maggi
Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero e pós-graduada em Gestão de Negócios pelo Senac-SP. Foi editora do Estudar Fora entre 2014 e 2016. Atualmente, é coordenadora de comunicação no Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), que tem como um de seus objetivos ajudar a qualificar o debate educacional no país.

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